Freud não criticou os fundamentos da ética nem prescreveu deveres, proibições, aspirações ou respostas alternativas a problemas tradicionais, e sim apresentou uma nova maneira de formular problemas morais. Existem três áreas nas quais Freud insinuou uma ética que indica uma direção diferente da atual bioética. 1. O caráter não ético da psicanálise não está incluído entre as técnicas de dominação ou doutrinamento e sim nas de veracidade, onde o que importa é o auto-reconhecimento, a má compreensão é o caminho necessário para a compreensão. 2. A postura final de Freud, mesmo até sua morte, pode se chamar de “apropriação de sua finitude”, quando ele assumiu seu ser-referido-à- morte, não como estar-em-seu-final, indicando com isto que compreendeu que o final sempre infiltrou sua vida. 3. Na autêntica compreensão de si mesmo, Freud entendeu que a última potencialidade de sua existência foi abandonar-se a si, revelou sua potencialidade para sua não–potencialidade, libertando-se para seu próprio fim, aceitou sua existência em sua finitude.
Figueroa, G. (2020). Os questionamentos éticos de Freud: psicanálise, existência e morte. Acta Bioethica, 26(1), pp. 17–28. Recuperado de https://actabioethica.uchile.cl/index.php/AB/article/view/57350