No presente artigo, examina-se o uso que se faz do conceito de “evidência” na corrente denominada “Medicina Baseada em Evidências” (MBE). O artigo inclui alguns marcos históricos do conceito, em que Aristóteles, André Lalande e Michel Foucault são as referências principais. O processo através do qual nasce a MBE é revisado, passando por Cochrane, Guyatt, Sackett e Woolf. Explica-se que a MBE entende a evidência como fatos, onde os estudos clínicos controlados e randomizados, assim como as revisões sistemáticas, são os meios mais adequados para obter evidência. Propomos que a MBE poderia não estar ciente de que o conceito de “evidência” empregado é criptonormativo, o que faz com que tal conceito contenha uma forte carga axiológica.
O artigo não se propõe a descartar de imediato o conceito de “evidência”, mas revisar sua singularidade e abri-lo a uma compreensão análoga que poderia melhorar as práticas clínicas e os escopos teóricos que lhe servem de base. Uma parte central dos argumentos empregados nesse texto consiste em revisar a suposta neutralidade epistêmica da MBE, a qual é um movimento em formação que requer diversos ajustes. Entre eles, o de uma revisão profunda do conceito que lhe dá nome e sentido, para benefício dos criadores e usuários da MBE (clínicos e pacientes).
Palavras-chave:
medicina baseada em evidência, epistemologia, evidência
Como Citar
Ordóñez Torres, K. ., & Martínez Barrera, J. . (2024). A que “evidência” se refere a Medicina Baseada em Evidências (MBE)?. Acta Bioethica, 30(2), 245–252. Recuperado de https://actabioethica.uchile.cl/index.php/AB/article/view/76138